Durante os anos 2000, BlackBerry não era apenas um smartphone. Era um símbolo. Usar um BlackBerry significava status, produtividade e um tipo muito específico de sofisticação empresarial. O teclado QWERTY físico, o LED de notificação piscando discretamente na mesa de reuniões e o sistema de mensagens BBM criaram uma legião de fãs fiéis entre executivos, jornalistas, políticos e profissionais que valorizavam comunicação eficiente e controle tátil.
Contudo, com a ascensão dos smartphones com telas sensíveis ao toque, especialmente com o sucesso estrondoso do iPhone e a popularização do Android, a BlackBerry foi perdendo terreno até desaparecer do mercado de consumo. Parecia o fim de uma era. Mas, para a surpresa de muitos, uma empresa chinesa chamada Zinwa Technologies decidiu reverter essa narrativa.
Zinwa Q25: o BlackBerry Q20 renasce com alma Android
A primeira jogada da Zinwa foi reviver um dos modelos mais cultuados da BlackBerry: o Q20, também conhecido como BlackBerry Classic. Rebatizado como Zinwa Q25, o aparelho mantém o design icônico quase inalterado, como se tivesse sido preservado em uma cápsula do tempo. A aparência remete diretamente ao estilo original: tela quadrada de 720x720 pixels, corpo robusto, botão central com trackpad, teclado físico QWERTY e, claro, o inconfundível LED de notificação.
Mas é ao abrir o dispositivo — ou melhor, ao utilizá-lo — que a transformação fica evidente. O novo Q25 troca o antiquado chip Snapdragon S4 por um MediaTek Helio 99, acompanhado de 12 GB de RAM LPDDR4X e 256 GB de armazenamento interno UFS, além de câmeras reformuladas, com sensor traseiro de 50 MP e frontal de 8 MP. Tudo isso rodando o Android 13, com acesso completo ao ecossistema Google, incluindo Play Store, Google Assistente e serviços em nuvem.
Kit de conversão para donos de BlackBerry antigos
Em uma jogada engenhosa, a Zinwa também oferece um kit de conversão por €270 (aproximadamente R$1.560) destinado a usuários que ainda possuem um BlackBerry Q20 em bom estado. O kit permite manter a carcaça e o teclado original, substituindo os componentes internos por hardware moderno. É uma espécie de engenharia reversa aplicada ao coração do aparelho, mantendo sua alma intacta.
Esse processo de atualização é quase artesanal: cada kit é montado com o cuidado necessário para preservar a estética original, enquanto insere as capacidades de um smartphone moderno. A empresa aposta que essa abordagem irá conquistar tanto os saudosistas quanto os usuários em busca de um dispositivo único, funcional e diferenciado.
O plano é maior: Passport e KEYone vêm aí
A iniciativa da Zinwa não para no Q25. A empresa confirmou que outros modelos clássicos também passarão pelo mesmo processo de revitalização, incluindo o lendário BlackBerry Passport — com sua tela quadrada de 4,5 polegadas (1440x1440 pixels) — e o KEYone, um dos últimos aparelhos da marca antes de sua saída definitiva do mercado de smartphones.
Esses modelos são especialmente queridos por sua ergonomia, sensação de digitação física e design único. Ao reviver esses aparelhos com hardware moderno e software atualizado, a Zinwa se propõe a preencher uma lacuna no mercado atual, onde os smartphones são cada vez mais parecidos entre si, sem identidade própria.
Mais do que cópia: uma preservação da essência
Ao contrário de marcas como a Unihertz, que lançaram aparelhos com teclado físico inspirados nos BlackBerrys, a proposta da Zinwa é muito mais ambiciosa. Não se trata apenas de homenagear o estilo — é uma tentativa de preservar o DNA original da marca canadense, adaptando-o aos tempos modernos.
Isso significa manter elementos-chave como o formato da tela, a ergonomia, os atalhos do teclado, o LED de notificação, e ao mesmo tempo oferecer um sistema operacional atualizado, com acesso pleno a aplicativos de mensagens, redes sociais, ferramentas de produtividade e serviços de streaming. É, como a própria empresa define, uma nostalgia premium com realismo técnico.
Existe demanda? O nicho que ainda ama teclados físicos
Embora a ideia possa soar anacrônica em um mundo dominado por smartphones com telas cada vez maiores e designs minimalistas, a realidade é que existe um público fiel que ainda valoriza o teclado físico. Essa base de fãs é composta por:
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Profissionais que digitaram por anos em BlackBerrys e nunca se adaptaram aos teclados virtuais.
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Jornalistas e escritores que apreciam a precisão do QWERTY físico.
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Usuários mais maduros que priorizam produtividade e simplicidade de uso.
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Entusiastas de tecnologia retrô com apelo funcional.
Além disso, em um cenário saturado por smartphones muito similares, o Zinwa Q25 se destaca visualmente, despertando curiosidade e admiração. O aparelho passa uma imagem de exclusividade e personalidade — algo cada vez mais raro nos dias de hoje.
Android 13 com “cara de BlackBerry”
Apesar de rodar Android 13, a Zinwa implementou uma interface personalizada que remete à estética clássica do BlackBerry OS. Isso inclui:
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Gestos otimizados para uso com teclado físico.
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Atalhos configuráveis para aplicativos, como no antigo BB10.
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Suporte a temas escuros com contraste alto, lembrando o visual clássico.
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Um launcher exclusivo que simula a organização por “pastas de trabalho”, focando em produtividade.
É uma abordagem que oferece o melhor dos dois mundos: um sistema robusto, seguro e compatível com tudo que o usuário moderno precisa, aliado à experiência tátil e visual de uma época em que os celulares tinham alma.
Limitações e desafios
Por mais interessante que o projeto seja, ele não está isento de riscos. Entre os desafios, podemos destacar:
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Falta de certificação oficial da BlackBerry: apesar da aparência e da fidelidade ao design original, os aparelhos não são licenciados oficialmente pela marca.
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Mercado de nicho: embora exista demanda, ela é limitada. É improvável que o produto conquiste grandes volumes de vendas.
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Aplicativos otimizados para telas retangulares: a tela quadrada pode causar problemas de exibição em apps populares.
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Concorrência indireta com aparelhos dobráveis, que oferecem teclados virtuais de tamanho comparável e maior flexibilidade de uso.
Mesmo assim, a Zinwa parece disposta a assumir esses riscos. O objetivo da empresa não é competir com gigantes como Samsung, Apple ou Xiaomi, mas atender a um segmento negligenciado, que ainda sente saudade de um tempo em que os celulares eram verdadeiramente diferentes entre si.
Conclusão: um respiro ousado em um mercado previsível
No cenário atual, onde a maioria dos smartphones parece seguir um mesmo padrão estético e funcional, a proposta da Zinwa Technologies de ressuscitar BlackBerrys com Android é, ao mesmo tempo, corajosa e poética. É uma resposta à padronização extrema do design móvel e ao esquecimento de uma era em que a identidade visual dos aparelhos dizia muito sobre o usuário.
Loucos ou visionários? Talvez os dois. A empresa aposta na força da nostalgia com propósito, combinando design icônico com tecnologia moderna. Ao oferecer um teclado físico em pleno 2025, com Android atualizado e desempenho robusto, a Zinwa resgata não apenas aparelhos, mas um modo de usar o celular que privilegia produtividade, controle e identidade.
Se o projeto será um sucesso comercial ainda é cedo para dizer. Mas uma coisa é certa: em um mar de telas idênticas, a volta do BlackBerry — mesmo que não oficialmente — já conquistou os corações de quem nunca quis deixar de digitar com os polegares. E isso, por si só, já é uma vitória.
fonte: https://www.hardware.com.br/noticias/blackberry-android-retro-zinwa/